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antitudo

Vejam só! Isto aqui só pode ser uma grande piada de mal gosto. Acredite! Fato: estão criando uma grande conspiração para destruir tudo o que você aprendeu como ser o certo e o errado desde que começou a engatinhar por essa santa Terra abençoada pela mãe natureza, mas tão maltratada pelos seus dominadores. A verdade é que isso nem sempre foi assim, a nossa gente, te garanto, já foi de grande valor e destaque por aí. Porém, passamos por uma verdadeira destruição nas últimas décadas. Passamos por uma ADI, Auto Destruição Induzida. 

 

Nosso povo se tornou o que é e na sua pior versão, a versão obcecada por se dar bem e faturar, faturar para se dar bem e viver numa boa. Manter isso é complicado, é preciso ser muito organizado e ter muito dinheiro para comprar muita gente e cada vez mais gente. Hoje em dia está mais complicado. E se já não bastasse esse modelo de produção global, uma grande exploração destruidora de economias pelo mundo a ponto de qualquer país abrir as pernas para os vermelhos do oriente. São tensões do mundo globalizado que não existiam nos tempos do meu pai! Mas confesso que nunca tinha visto algo como o que estamos vivendo… Eu cheguei a estudar todo o comportamento econômico devastador de grandes momentos atípicos do capitalismo universal e nunca achei algo parecido a este vírus de laboratório cruel para quem não tem histórico físico-motor privilegiado ou cloroquina. E pior que a peste é usada por um bando de capitalistas malvados que está aí, construindo conspirações descaradamente em salas secretas da ONU, em Nova Iorque, acertando acordos trilionários para destruição dos meios de produção do ocidente e da religião cristã para concentrarem eles mesmos todos os trilhões de dólares que podem lucrar com os seus mega negócios através de uma ditadura gayzista chino soviética.

 

Enquanto isso, eu, estou perdida nesta minha luta de sonhadora da liberdade. Ser livre do estado, das pessoas, dos filhos e até da morte! Porém, sofro todos os dias para manter a minha pobre vida com esse quinto dos infernos que faturo nesse lugar chamado Brazil. Hoje em dia é preciso pagar imposto para tudo que é tipo de coisa para alimentar esse sistema corrupto bem nutrido pelo meu pobre suor e também dos meus funcionários subvalorizados. E se você é contra a natureza, paga em dobro para sustentar uma conspiração mentirosa sobre a destruição do meio ambiente, segundo leituras que denunciam alguma mentira sobre camadas de ozônio ou falta de água ou mesmo a inexistência de petróleo. Posso provar!

 

A verdade é uma só. Ninguém poderia dizer que aquela jovem garotinha, filha de italianos e descendentes de portugueses, poderia ir tão longe, ainda mais nascendo neste tempo e nesta terra. Mas ela surpreendeu, crescida numa família pobre, com poucas perspectivas na vida, foi a base do meu trabalho que conquistei o que conquistei. E do Estado Brasileiro, o bom Estado! Mas até eu chegar lá, dependi de meus pais e avós, com uma criação muito humilde, longe das cidades e inteiramente ligada ao campo. Eles viveram da cana, do café e de mixarias pagas a cada trabalho e andança da vida. O público não existia. A única lei que conheciam era o de ter alguma comida no fim de cada jornada diária.

 

Ainda era melhor do que uma guerra ou qualquer vila no velho continente. Existia esperança nesta terra, de ter uma casa, um negócio para a família, um pedaço de terra e um grande líder para criar neste país uma potência mundial. Quando nasci, comida na mesa não era problema, mas o nosso patrimônio estava longe de uma vida melhor para todos. A cidade alcançou o mato e toda essa gente pobre se multiplicou. Os de fora vieram até aqui. Estudos precários, um emprego noturno... não consegui virar uma executiva ou engenheira, me restou ingressar no trigésimo quarto batalhão de infantaria do exército brasileiro e ter mais uma possibilidade de carreira. Lá, descobri um mundo novo, composto por centenas de pessoas como eu, todas elas decepcionadas com a vida e sem chance de grandes conquistas. Todo mundo estudou em escola pública e nem sonhava em fazer universidade porque não teria como pagar. Essa oportunidade era uma garantia de melhores rendimentos e privilégios, todos estavam motivados por este bem comum. Afinal, nós não lutamos em guerras até então. Ao mesmo tempo, todos os meus colegas odiavam o privilégio dos ricos com acesso a boas escolas e viagens internacionais, que agora estavam em uma universidade pública estudando de graça enquanto a gente assumia uma missão de defesa da nação, com grandes consequências. Fazíamos parte do poder! E todas as noites eu pensava em nossos pais em empregos ruins, ou alguns nem empregados estavam e que isto continuaria para sempre. Queria mudar isso. Fui fardada e adestrada com ordem e opressão com objetivo de acabar com isso e muito mais. Na mesma medida do meu ódio, criei nojo do pobre delinquente… O ladrão, o traficante, a criança que saiu da linha para furtar o cidadão trabalhador. Perder o pouco que tinha para as drogas, para o roubo e o crime? Desejo a, esses fracassados. Não eram humanos, não há pecado. Todos nós odiávamos as mesmas coisas e a mesma gente; seus costumes, sua fé, suas festas e sua cultura. Éramos fortes, eles eram os fracos; lixo, um atraso para a sociedade.

Destruir o sistema. Entrando nele e sendo mais uma engrenagem. Ao mesmo tempo, dizer o que se precisa ser ouvido, cultivar a pura gnose do ódio para manipular a verdade através de uma realidade absurda. Serei perdoada, afinal, quem nunca pecou? Estou alerta e pronta para lutar.

Hoje não podemos acreditar em uma palavra sequer dita. Duvide, duvide, duvide de tudo. Duvide três vezes para questionar mais uma vez. Um novo vírus está ameaçando a sociedade? Pense. É  verdade? Pense. Por que agora? Da onde veio? Entendo. Quem garante que não seja mais uma fabulosa invenção para te manipular como um coitadinho temente pela vida? Frágil, meu filho, isso acontece a toda hora. Vermelhos, russos, suecos. Todos estão juntos em uma aliança global para destruir os meus sonhos banais! Juro, nunca gostei deles, sempre querendo dizer o que devo fazer, usar, falar, curtir! Eu odeio curtir qualquer coisa. 

 

E até choro, mas questiono, julgo e não tente me enganar, eu sei o que é o certo e o errado. Vivo na minha bolha, mas meu ar não é contaminado de vulgaridades tristes ou sou influenciada por uma cultura homogeneizante formada de mártires, mentiras e maldições. Meus gostos, sempre tão simples mas belos, estão distantes de tantas tolices que assistimos todos os dias nas telas de nosso celulares. Refinada, sou, em todos os sentidos, para me desligar de corpo e alma dos embaraços que minha geração gravita. Minha essência é questionar. Sou o contrário do que você sempre sonhou. Doutrinas não me atraem e rejeito qualquer cartilha. Nenhum autor é maior que do que acredito. Nego atualidades e reviso o passado ao meu modo, não se engane, tudo está bem encaixado. 


Eu desliguei a Matrix para acertar o lado dos campeões. Nesta transformação, perdi muita coisa, mas pelo menos a guerra vale a pena. Hoje, não tenho amigos, mas vivo em contato com a natureza, meu cachorro e alguns passeios. Minha mãe disse que me ama e meu irmão, eu não sei. Ser especial é duro, pois ninguém te entende e gera muita inveja. A inteligência é o maior dom de Deus, usar do jeito cabal é uma iluminação única que deve ser respeitada e não rivalizada. Estar sempre certa é uma grande responsabilidade perante a imbecilidade nociva de todo o resto da humanidade. Acertar e ver todos errando também desanima, sabe? A realidade nunca parece mudar e tudo parece aquele eterno looping de fracasso atrás de fracasso. Poderia eu ser o grande vetor transformador da liberdade, quem sabe? De qualquer forma, sou contra o trabalho, não posso. Deixo para o destino o que já está escrito nas vontades do grande Criador: a destruição de tudo e de todos. Nas mãos do sistema doente ou por culpa do acaso, quem liga? No fundo é o que eu sempre quis! Ser antitudo é querer nada. Luta contra todos é lutar pelo fim de todos. Perseguir uma verdade alternativa é desaparecer para a sempre. Eu nunca existi. Eu sempre estive à espera do fim. Cada batalha foi em busca da minha frase final. Meu nome? Caomenica Laporte, que a santa Terra exploda. Estarei assistindo com uma placa escrita: “EU AVISEI”.

Inti Raymi

Florianópolis, 29 de maio de 2020.

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